Contratempos
Semiacordada
e sem ânimo para me arrumar, eu preparava o café em meu casual ritmo lento;
quanto mais se prolongassem as manhãs, mais encurtavam as tardes.
Letargicamente, levei a colher à xícara e misturei o açúcar, provocando leves
tilintares do metal contra a porcelana, provocando um som característico...
O
homem batia freneticamente a colher contra o fundo do copo ao preparar aquele
exótico drinque: o barulho poderia ser ouvido pelo bar inteiro, se não fossem
as acaloradas conversas entre os clientes. A neve caía aos montes nas ruas,
tornando a vista das janelas do estabelecimento nada mais que um borrão branco.
Eu
não estava alheia àquela cena; enquanto aquecia meus pés, congelados por
andarem pelas ruas cobertas de neve sem botas adequadas, tentava capturar cada
troca de palavras entre frequentadores. De vez em quando, trocava comentários
com minha irmã, sobre nossas primeiras impressões de Nova Iorque, relembrando
ora o taxista indiano que nos levara ao hotel, ora a sorte de termos encontrado
um restaurante tão acolhedor justo quando o frio começava a perder seu
brilho. Logo fomos levados à mesa.
−
Mas sem querer ser antiquada − indagou minha mãe, em baixo tom − acho que este
não é um bar convencional.
−Você
também notou? Pensei que fosse só eu. Tudo aqui é discreto, há muitos turistas,
mas ainda assim percebi: todos os garçons são homossexuais. E há um grande
número de clientes que acho que também são.
Dito e feito. A comida estava deliciosa, e o
atendimento, impecável. Ao sairmos, meu pai resolvera ir ao banheiro; voltou
mal contendo o riso.
−
Vocês estavam certas; existem dois banheiros, mas ambos são tanto masculinos
quanto femininos.
Minha
irmã reclamou sobre algo que não entendi, então percebi que ela me chamava,
furiosa. Parei de mexer a colher na xícara e terminei o café, não tão
rapidamente quanto ela gostaria.
Com
sorriso discreto, arrumei a mesa. Ironias da vida.
Larissa
Daruge 8ª série B
Nenhum comentário:
Postar um comentário